sexta-feira, 30 de julho de 2010

SEM PERDER O REBOLADO




Hoje é dia de aloprar geral!
Eu concordo plenamente.
Mas evitem andar de skate em túneis em manutenção.
Evitem deixar os celulares longe do alcance ou desligados, porque hoje é a noite em que os presidiários adoram ligar para os ''escolhidos'' e dizer que seus parentes foram sequestrados e pedir créditos telêfonicos para pagar o resgate.
Tentem prestar atenção nos copos em que estão bebendo para não cairem no golpe do ''boa noite,Cinderela''.
Façam sexo com camisinha e reparem se não há cameras
ocultas, para que seu prazer privado não seja o vídeo mais visitado do sábado.
Forre o estomago, comendo em casa e na hora que a galera perguntar qual o seu pedido, permaneça na sua coca zero ou
sua caipirinha com dietil e diga que esta de regime e guarde
dinheiro para o taxi (sempre). E se voltar de taxi ligue para a casa de dentro do taxi e diga: ''Pai, já estou chegando, a placa do taxi é xxxxxx ''..(mesmo que vc tenha 80 anos).
Não pegue carona com quem já tomou todas, ''mas acha que dá pra chegar'', porque só dá pra chegar no cemitério.
Da mesma forma não deixe para terminar nenhum relacionamento justo na sexta-feira depois do quarto chopp, porque a festa vai virar tragédia na certa (as manchetes dos jornais comprovam o que estou dizendo).
Agora se você curtir um pagode de mesa, do bloco carnavalesco do bairro onde mora, vai tranquilo.
E se você gosta mesmo é de um vinhozinho e de um filminho, aí é só ajeitar a poltrona e curtir o programa.
A sexta-feira é o começo da festa, mas o fundamental é não perder o rebolado.







quinta-feira, 29 de julho de 2010

ESTHER WILLIAMS - IEMANJÁ

A minha primeira Iemanjá foi Esther Williams!
Simples assim. Quando eu quero desenhar ou escrever, eu busco
inspiração admirando a natureza, ouvindo música, pesquisando
sobre um determinado assunto, a partir de um filme ou revendo
meus trabalhos antigos.
Ontem eu estava procurando uns desenhos para um projeto que
estou desenvolvendo, e achei esses desenhos que eu fiz em 1976.
Então eu me dei conta que esses desenhos, que eram de uma época
em que eu ainda não havia encontrado um estilo próprio, retratavam
meu maior interesse na época, os filmes da época de ouro dos
musicais de Hollywood. Aos dezesseis anos eu não havia desenhado
nenhum Deus do Panteão Africano, mas quase todos os grandes
astros dos filmes musicais. Os desenhos eram confeccionados com
caneta esferográfica e caneta pilot, além de lápis de cor comum.
Como a atriz Esther Williams era uma Deusa dos músicais de Hollywood,
ela foi minha primeira Deusa das Águas, minha primeira Iemanjá.






Hoje , quando os canais de tv raramente reexibem esses filmes, eu
dificilmente poderia ter tido esse tipo de inspiração. Tenho assistido
alguns videoclipes e chego a conclusão que a Esther Williams moderna
seria uma mulher com corpo tão musculoso que se assemelharia a um
cyborg, que não lembrariam nada as imagens fictícias das sereias dos
contos e das telas.



Quanto as lendas do Orixá Iemanjá, elas só ganharam vida nos meus
desenhos nos anos noventa, mas nunca mais saíram dele. Iemanjá é
o Orixá que eu mais desenhei, e o desenho que eu mais vendí.

Devo muito a Esther Williams e sua Escola de Sereias!












terça-feira, 27 de julho de 2010

ENTREVISTAS - VIL + MÁ

CAPÍTULO I - A SAGA DA VIL + MÁ!



Minha saudosa madrinha-afilhada Dona Zeli, uma vez me disse que não conseguia entender como uma mãe podia botar uma nome tão pesado em uma filha! Ela se referia ao nome VILMA. Para ela, Vilma representava a junção de vil+ má= Vilma. Ela achava uma carga pesada demais para uma criança!
Me lembrei disso ontem.
Ivani, a assistente de serviços gerais de mamãe, me indicou uma tranceira, vizinha dela.
A criatura veio fazer minha cabeça.
Enquanto trançava, ela começou a me narrar sua trajetória de vida.
Primeiro os números: ela tem 39 anos, uma filha única de 21 anos, possui 8 irmãos e tem 22 sobrinhos. Ela começou a trabalhar numa casa aos 10 anos, engravidou casou e separou aos 20 anos, com um dos 3 filhos da casa onde trabalhava e residia. Ela mora
em Sepetiba faz 18 anos. Me cobrou 35 reais pelo penteado. Ela namora atualmente com um barraqueiro, de 50 anos, recém-separado que tem um quiosque na Praia da Brisa.
Agora vamos a saga da ''Vil-má'':
Vilma nasceu e cresceu numa favela em Senador Camará, Zona Oeste, do Rio. Ela adorava fugir de casa e pegar o onibus 870 - Bangu/Sepetiba, e vir para a praia. Ela sonhava: ''- Um dia ainda vou morar aqui!"
Ela sempre procurou, mesmo muito pequena arrumar uns trocados para ajudar a mãe. Uma de suas irmãs, precisava que ela ajudasse a cuidar de sua filha recem-nascida, enquanto ela trabalhava. Ela gostava de ajudar e achava que a mãe dela iria pedir a irmã que levasse o bebê para a casa delas, mas como o marido da irmã não queria que a filha ficasse fora de casa, a irmã pedia que ela fosse para a casa dela, tomar conta da criança. Lá, a menina de nove anos, de nome Vil-má, era submetida a um cunhado pedófilo, que a bolinava e pedia segredo enquanto ela segurava a sobrinha nos braços. Vilma já tinha noção do que era viver em uma favela, e sabia que se desse
o alarme à comunidade do que se passava nessas tardes de terror, o cunhado seria linchado pela turba furiosa ou executado pelo pai dela. Ela então sofreu calada e assim que teve oportunidade, fez amizade com uma das famílias, as quais prestava pequenos serviços em senador Camará e se mudou como doméstica-mirim para Bangu. Lá conviveu e namorou com um dos filhos da dona da casa onde trabalhava por dez anos e depois engravidou e casou-se com ele. Mas como ela não o amava, pediu a separação antes mesmo de parir a criança. O marido concordou e ela ainda voltou para Senador Camará, onde o cunhado-pedófilo já havia se separado da irmã depois que a filha morreu de repente, antes de completar um ano de idade.
Quando o marido de Vilma perguntou o que ela queria fazer da vida, ela disse que queria realizar seu sonho de morar em Sepetiba e criar a filha deles lá. Ele então comprou uma quitinete para elas e deu um salário mínimo por mês para ela sobreviver.
Ela então começou a fazer pequenos ''bicos'' e aprendeu a fazer tranças, interlace, rastafari, etc..
A filha dela, de nome Ruana, é seu xodó e sua alegria de viver. Estuda e só dá alegrias à mãe. Vilma ainda presta auxílio aos 22 sobrinhos e faz multirão para cortar cabelos e banca a ''Mamãe Noel'' no Natal dos irmãos que não saíram da favela. Nenhum de seus parentes enveredou pela criminalidade tão próxima, mas temem a violência instaurada na comunidade onde sempre viveram.
Ela esbarrou com o pedófilo recentemente, na companhia do atual namorado e se sentiu destroçada. Mas o tempo cura tudo!
Ela também me contou um episódio do ''além''.
Vilma me disse que quando tinha uns 7 anos, ela sempre estava de pés no chão, cabelos desgrenhados e nariz escorrendo. E havia um senhor, conhecido como João Maquinista, que dizia a ela que se ela enxugasse o nariz ele lhe dava uma moeda. Então para ela era um alegria encontrar o bom senhor de nariz escorrendo, para que ele visse, ela limpasse e ganhasse a recompensa.
Recentemente ela foi a Senador Camará com a filha para uma consulta dentária e viu Seu João Maquinista num barzinho, como sempre costumava ficar. Ela se aproximou dele, apresentou a filha, e ele ainda brincou como se a filha tivesse sido criada ali. Vilma pensou, se Ruana enxugasse o nariz na frente de Seu João Maquinista, ele lhe teria dado uma moeda. Vilma então se despediu e enviou lembranças a mãe dele, dona Margarida. Quando visitou sua mãe depois da consulta dentária com Ruana, Vilma comentou com a mãe o encontro. A mãe se espantou e disse que ela devia estar sonhando porque tanto Seu João quando Dona Margarida haviam falecido havia muitos anos. Ela disse que havia falado com ele e tinha a filha por testemunha. Dias depois a mãe confirmou a informação das mortes com os parentes da família de Seu João e perguntou a filha, como ele estava quando ela o viu, e Vilma respondeu: ''- Ora mãe com a mesma cara de sempre!'' Aí , ela percebeu que ele estava como se o tempo não tivesse passado desde a época em que ela tinha sete aninhos. Ela ficou sem dormir uma semana e até hoje ainda fica impressionada com a conversa do ''outro mundo''que ela teve.

CAPÍTULO II - A SAGA CONTINUA

Outro dia, nós estávamos conversando sobre as notícias em torno da vida e morte de Michael Jackson. Então, eu comentei sobre a maneira com que o pai dele era violento com os filhos. Vil-má então começou a me descrever, a relação dos pais dela com ela na infância.
Ela me contou que o pai quando chegava em casa, escutava a mãe reclamando do mau
comportamento dos nove filhos, mas em especial dela e de um outro irmão. A partir daí, o pai iniciava, sem dó, uma série de torturas: arrancava a roupa dela, a colocava debaixo do chuveiro e dava uma surra com uma corrente que os sofás mais antigos tinham embaixo. Quando ela brigava com alguma criança na rua, e ela me contou que era ''moleca-macho'', pois só andava com os outros meninos fazendo arruaça e arrumando brigas, o pai raspava a cabeça dela com gilete, para que ela não quisesse sair na rua careca. E quando ela ia para escola, tinha que usar um lenço de cabeça, e quando as outras crianças a chamavam de careca ou puxavam seu lenço, ela corria atrás das crianças e brigava de novo e era submetida a mais uma série de castigos que incluiam até ser acorrentada, ter suas roupas molhadas para que não pudesse vestí-las e sair, e surra com cabo de aço e chutes nas partes baixas.
Ela contou que o pai, certa vez, bateu tanto no irmão dela, que chegou a deslocar o pescoço.
A mãe dela então, levou o filho para o hospital, e no caminho, foi atropelada e perdeu a memória. O filho machucado, ficou bom do pescoço com o susto do acidente da mãe e voltou para casa para poder dar a notícia do atropelamento e internação da mãe
no hospital.
É MOLE?
Eu fiquei estarrecida com o relato e Tia Neném Jacira, confirmou esse tipo de castigos, como sendo comum, entre muitos pais do passado.
Eu tenho 50 anos e ouví falar desse tipo de crueldade, de pais da época do meu avô Oswaldo. Mas a Vil-má tem 39 anos. E isso aconteceu quando ela tinha entre 7 e 14 anos. Ela tem uma filha de 21 anos, que ela criou de outra maneira, obviamente.
Mas ela disse que hoje, ela é uma pessoa, que procura não ser ''barraqueira'',não bebe e não fala palavrão, e se dá com todos os vizinhos.
Ela disse que perdoou o pai pelas surras e torturas, mas, embora se dê com a mãe, nunca a perdoou por instigar o pai a castigá-los, já que ela era impotente para controlá-los. E ela ainda disse, que como a mãe era loura dos olhos azuis e o pai negão, a mãe evitava ao maximo sair com os filhos, para que as pessoas não a vissem com aquela fila de negrinhos chamando ela de mãe!

Me esquecí até do Michael!UUUUUUHHHHH!

Essa é a Vilma.
Essa é a Roupa das Ruas que revela mulheres com conteúdo, que são provas de superação.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

FELIZ DIA DA(O)S VOVOS!





SALUBA NANÃ BURUKU

Mãe Nanã deixou seu reino em Daomé
E veio aqui saudar a nossa banda
Mãe Nanã deixou seu reino em Daomé
E veio aqui saudar a nossa banda

Sacode seu Ibirí Nanã
Sacode o seu Ibirí Mamãe
Sacode seu Ibirí
Sobre os filhos de Umbanda!!!!

Mãe Nanã deixou seu reino em Daomé
E veio aqui saudar a nossa banda
Mãe Nanã deixou seu reino em Daomé
E veio aqui saudar a nossa banda

Bela D' Oxossi

PORQUE EU VESTI A ROUPA





Agora que eu sou blogueira, tenho que esclarecer ao público em geral, o que só meu gueto sabia.
A roupa sempre esteve no DNA da minha família. Dom Kelé, quando jovem, em Salvador-BA, escolhia em catálogos italianos os modelos dos ternos que seu alfaiate iria costurar para ele ir ao Baile encantar as moças. Quando não ficava satisfeito com o catálogo, ele mesmo ditava a maneira com que o terno deveria ser feito. Mãe Chica tinha uma irmã costureira, mas ela mesma desenhava e costurava sua própria roupa, ou adaptava algum vestido que ganhasse de segunda mão, até porque nela a roupa parecia sempre nova. Até os pierrots para o carnaval, Dom Kelé confeccionava! E Mãe Chica costurava tão bem, que até o próprio vestido de noiva foi ela que
escolheu o modelo, cortou e bordou!



Quanto as roupas minhas e de minha irmã. até uns nove anos de idade sempre foram costuradas por Mãe Chica:-''bonequinhas de Alodê trajadas em 100% algodão''.



Eu sempre escreví, mas o título de Roupa das Ruas me ocorreu a partir da leitura do livro ''O Psicopata Americano'', em que o personagem descreve toda as roupas, perfumes, acessórios detalhadamente, enquanto planeja e executa a morte de inúmeras pessoas.
A outra influência foi assistir os desfiles da Semana da Moda via internet e ler os comentarios dos profissionais da moda.
A princípio eu brincava , falando meus trajes diários para vir trabalhar. Depois eu comecei a descrever as viagens de onibus pirata, kombis, filas etc..e depois a Roupa passou a ser uma crônica quase diária sobre todo meu dia-a-dia e um reality show narrado, sobre a minha família e amigos.
A partir do Blog, a roupa sai as ruas mmmeeesssmmmooooo! Então, agora eu tenho que fotografar e voltar a desenhar mais e vou começar a entrevistar um dos meus temas prediletos que são as mulheres invisíveis, que são pessoas com uma trajetória ímpar, mas que nunca ganharam visibilidade por serem pessoas comuns.

Espero que meus seguidores aumentem, porque blogueiro com uma dúzia de seguidores não é blogueiro.

Boa Semana
Bela

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A MÁGICA DO SABER



Ontem eu tive em minhas mãos, um livro organizado por um discípulo voluntário do
meu falecido tio Milton Cobrinha. Para variar o livro versa sobre Palmares e a luta
da Resistência Escrava. A pesquisa documental remonta os idos de 1600. Mas o
mais impressionante é que quanto mais os pesquisadores se aprofundam nesse tema,
surgem mais figuras emblemáticas de guerreiros negros , que desde os primórdios da escravidão no Brasil, se rebelaram e deixaram seu exemplo heróico para as gerações que se seguiram. Infelizmente, o que é trazido a luz do conhecimento geral agora, só alcançou o imaginário dos guetos onde essas lutas foram deflagradas. A tradição oral, fez com que ao longo do tempo, muitos desses personagens fossem esquecidos ou até fossem confundidos por terem características físicas ou geográficas semelhantes. Um exemplo disso é não se saber com certeza se ''Maria Doze Homens'' era Maria Felipa (A heróina da Independência, na Ilha de Itaparica) ou a mulher de Besouro
(o Mestre Capoeirista). Em estudos recentes aparecem os nomes de Camoanga e Mouza, como líderes que seriam seguidores de Ganga Zumba e Zumbi. Quando eu estudei, a História do Brasil se referia muito superficialmente a participação dos negros no movimento abolicionista, eu só sabia dos ''bastidores'', porque aquilo que a escola não deu, meu pai e meu tio Milton já tinham ido buscar por conta própria. Eu e meus irmãos tivemos a dádiva do acesso a informações que nos eram vedads na escola formal. Por conta disso não tivemos problemas de identidade como muuuiiitttooossss contenporaneos negros que se sentiam deslocados e excluídos por natureza. Hoje quando vejo os discípulos de tio Milton, Doutores e os discípulos de Pai Kelé, meu irmão professor de cultura afrobrasileira, e meu nome batizar Biblioteca, além de pertencer a uma Academia Afrobrasileira de Cultura e Arte, e minha irmã como a primeira Doutora negra em Vigilância Sanitária, a gente sabe que o brado daqueles guerreiros que impunharam suas lanças lá dos primórdios, contra a soberba e a tirania da escravidão, não poderá ainda ser ouvido por todos os afrodescendentes que precisariam, mas continuam ecoando e levantando a autoestima de cada vez mais homens e mulheres da nossa raça negra.















terça-feira, 20 de julho de 2010

DIA DO AMIGO!


MEU AMIGO DAQUI ATÉ O ORUM

Quando chove em dia de festa lá em casa, meu pai sempre nos acalma dizendo:-''Pode deixar que essa chuva já, já vai passar porque Chica tem um trato com São Pedro''.
Hoje é dia do amigo, e o melhor amigo que eu tive chamava-se ou chama-se Pedro Paulo. Digo amigo porque nós não crescemos, nem fomos criados juntos, nós nos esbarramos um vez na Faculdade Hélio Alonso, onde eu estudava de dia e
ele a noite, e depois fomos nos reencontrar e ficarmos grudados até que a morte nos separou.
E eu acho que nem a malvada nos separou tanto assim.
Ele, Pedro Paulo era o mais velho de dez irmãos. Só que ele era o único irmão por parte de mãe. Os outros 9 irmãos eram filhos de sua mãe com outro cara. Esse cara por sua vez era um pequeno traficante de maconha numa favela carioca. Pedro
paulo cresceu vendo o pai com os comparsas embalando ''a erva'', mas ouvindo dele que não queria que os filhos se aproximassem do ''bagulho'' e muito menos o consumissem.
Uma noite um Opala preto parou na porta do barraco, chamou o padrasto pelo nome de guerra , ele entrou no carro e nunca mais foi visto.
A mãe que Pedro Paulo teve, que não sabia ler e não tinha nenhuma profissão, caiu na pista e ele como irmão mais velho assumiu as tarefas de pai e mãe e passou a criar os irmãos.
A noite, quando sua mãe saia para se prostituir ele dormia sentado, encostado no tapume que cobria a entrada do barraco, para que ele não fosse invadido e algo acontecesse com seus irmãos.
Quando ficamos amigos na UNIRIO, ele, como eu, já havia terminado sua primeira faculdade. Só, que diferente de mim, ele havia trabalhado no McDonald´s e em outros lugares para poder pagar/custear o ensino particular. A UNIRIO, por sua vez era
publica e ele trabalhava agora na Interbrás, uma empresa da Petrobrás. Ele ganhava bem e podia ajudar a mãe e os irmãos que não moravam mais em barracos com tapumes no lugar de portas. Ele trabalhava a duas quadras do prédio da minha
repartição, e isso quer dizer que nós passávamos o dia todo praticamente juntos. Depois ele começou a frequentar nossa reunião umbandista lá em casa. Então até nos fins de semana nós estávamos juntos.
Ele chegou a realizar um de seus maiores sonhos que era comprar um apartamento num condomínio novo. Só que o infortúnio o atingiu e ele descobriu depois de ter contraído uma virose, que era soropositivo.
Aí a casa caiu! Seu emprego na Interbrás já era passado, porque as multinacionais haviam sido reduzidas ou privatizadas. E ele estava trabalhando em serviços temporários. Mas depois disso foi só derrota! Ele passou o apartamento novo e comprou
a vista, um antigo, segundo ele, para ter onde ''cair morto''.
Fazia de tudo para não revelar a família que estava a beira da morte.
Na nossa casa, nossa amiga Néia fazia um cheque polpudo todo mês, quando vinha para as reuniões, para que ele não deixasse de tomar o coquetel, que na época era comprado e caríssimo. Os nossos parentes, Tia Anísia, Tia Corina, Tio Ivan e
meu primo Zé levavam sopas reforçadas para ele se manter e se sentir amado. Meu pai e o pai biológico dele, o irmão por parte de pai e eu sempre o visitávamos quando ele se internava e assim fomos seguindo. Um dia ele chegou muito mal lá em Sepetiba
e nosso amigo Jim com seus mentores espirituais operou uma cura na vida dele, que lhe deu qualidade de vida por mais um ano. Ele se sentiu tão bem que até fez um concurso e passou. Só que quando o convocaram para assumir o cargo em
Brasília, ele contraiu mononucleose e depois veio a falecer.
Mas antes de morrer ele arrumou todos os seus livros e escreveu
para quem deveriam ser devolvidos, pediu a família que quando entrasse no apartamento dele para morar, permitisse que o amigo dele Laudicênio, tivesse um prazo para se mudar. E todos cumpriram seus desejos.

Anos depois, uma certa noite, eu sonhei com ele. Acordei e não sabia como iria jogar no bicho com aquele palpite.
Aí minha Tia Neném, me disse ,''- é fácil, é só saber o número da carneira dele''. A carneira era a tumba. Mas ao ouvir esse nome ''carneira'', eu me lembrei, que nos seus derradeiros dias, ele usava umas tranças que pareciam
uma cabeleira de lã de carneiro. Eu joguei no carneiro e ganhei!
Pedro Paulo - AMIGO DAQUI ATÉ O ORUM!

VIVA O DIA DO AMIGO!
AMO VOCÊS!


NOSSO BLOG É UM ORGANISMO VIVO QUE SE ALIMENTA DE SEUS LEITORES/SEGUIDORES, QUE POR SUA VEZ, ALIMENTAM-SE DO NOSSO BLOG. E A PROVA VIVA É A RESPOSTA DE UM LEITOR/SEGUIDOR AO DIA DO AMIGO:


"Izabela,

De tudo o quanto você escreveu até hoje, nada para mim foi mais forte do que esta crônica. Ela é o recorte de um tempo glorioso de nossas vidas, sob uma Irmandade denominada Cercado do Boiadeiro.

As sessões de festa ou trabalho serviam ao nosso tratamento espiritual, a exemplo do que Jimmy fez com Pedro Paulo STAR de Souza (lembra do nome?). No entanto, nosso doutrinamento se fazia pela convivência. Foi assim que a antipatia mútua que nutríamos eu e Lúcia se transformou nesta amizade tão sólida, neste respeito tão intenso, neste amor tão fraterno. Foram assim tantos outros casos que demandariam um livro de muitas páginas se fosse descrevê-los.

O Cercado não é Sepetiba, nem as paredes do Terreiro; ele foi aquela irmandade constituída por ordens superiores para o cumprimento de uma missão coletiva, sob o comando desta que é sua mãe carnal. Esta missão foi seguramente cumprida com sucesso. A irmandade acabou. Por óbvio as amizades não foram, necessariamente, desfeitas. Apenas, cada qual teve de dar continuidade à missão a que veio.

As saudades, no entanto, são inevitáveis. Por isso, quando na última festa do Boiadeiro entrei na cozinha do sobrado e a vi apenas com Suzane e Vera, chorei escondido. Doeu muito! Tanto quanto você não imagina! Não ter ali Tia Gildete, Lúcia, Dinda Chris, Tia Corina, D. Lizete, Helô. Aquela algazara! Todas ajudando! Cada qual fazendo o prato de seu protegido e reclamando das outras. Eram gritos, brigas, discussões mas era tudo tão lindo, tão sincero, tão cheio de verdade. Estou chorando agora enquanto escrevo. Estou chorando muito. Mas a vida é isto... seguimos cumprindo uma missão que não sabemos bem qual é e em relação a qual esperamos estejamos fazendo o certo.

Hoje, quando vejo tanta gente estranha a esta história, circulando e "fazendo graça" pelo terreiro adentro me sinto um estranho na minha própria Casa de Santo e ofendido na memória que é sobretudo a memória daqueles que partiram para outro plano. Memórias que você homenageia ao trazê-las à tona.

Talvez, quem sabe, esteja me tornando um velho ranzinza como meu padrinho Clóvis. Mas é possível, também, que muitos destes desavisados que encontrei por lá tenham ido em busca da "Irmandade do Cercado" e não do "casa do Cercado", porém como na música de Chico, quem não a conhece não pode mais ver pra crer; quem jamais esquece não a pode reconhecer.

Bjs emocionados,
Zé"

segunda-feira, 19 de julho de 2010

VOCE TEM FOME DE QUE?



Eu tenho fome de conhecimento. Sou nerd'íssima!!!Não busco as honrarias e titulações dos pesquisadores acadêmicos. Eu quero saciar minha fome de descobertas. Outro dia ganhei um livro que só foi editado no Brasil nos anos sessenta e depois, nunca mais. Quem me deu esse livro, é uma nerd veterana que me considera como uma filha. E ela melhor do que ninguém sabe que me presenteou com o equivalente a uma
jóia ou a um almoço num restaurante cinco estrelas.



Quando minha irmã, Christina estava se doutorando, ela precisou de um livro raro e eu consegui achar e comprar para ela no mercado livre, nas mãos de um cara lá de São Paulo. Ela também guarda esse livro num cofre a sete chaves!



Recentemente eu fiz uma pesquisa, que me permitiu conhecer uma heróina pouco estudada
da história do Brasil, nas lutas pela Independência. Eu me aprofundei tanto na matéria que ontem eu acabei de baixar da internet o primeiro livro em que essa personagem é citada. Eu quase dormí com o libro abraçada, pela satisfação de conseguir resgatar de uma só feita o escritor e parte da biografia
dessa mulher.



Alimento, alimento ,alimento.
Algumas de minhas amigas irão logo diagnosticar que o que eu estou precisando mesmo é de um homem! E eu concordo ! Estou precisando muito de homem bem forte para me ajudar a carregar meus livros.
Tá ligado?!
Só esse tem 342 páginas...................









EFEITO IMEDIATO DA ROUPA DAS RUAS

Abaixo segue o relato de uma leitora/seguidora de A ROUPA DAS RUAS que merece ser dividido com todos.

"Oi lindinha,

Sabe eu partilho em numero e grau da tua fome. Eu sou rata de biblioteca, que pra mim tem o mesmo efeito que ir a uma igreja. E o meu maior medo hoje em dia e que isto tudo acabe. Bem, eu acho que o livro tem os dias contados, mas pessoas como eu e voce vamos ser o dinossauro do futuro. Eu falo de livro de papel, com cheiro a papel, com capa dura ou mole, e que fica cheio de poeira... Eu to morando aqui ha 6 anos, e ja tenho tantos livros, que fico a pensar como vou leva-los um dia que me for embora.... Adoro sebo, adoro feira de livro....E adoro ler 3 livros ao mesmo tempo.....

Nunca me esqueco o passeio escolar que foi o mais importante da minha vida: o dia em que a professora nos levou a biblioteca do bairro. Primeiro fomos a biblioteca da escola que era pequenina e tinha meia duzia de livros (mas era uma biblioteca). Depois fomos a biblioteca do bairro, que ficava num segundo andar la em Copacabana, por cima da Casa Mattos (nao sei se essa loja ainda existe). Havia dois andares de biblioteca, a dos adultos e a biblioteca infantil, que para alem dos livros, tinha jogos, e um mini teatro onde as educadoras faziam leitura dinamica uma vez por semana.

Eu aprendi logo o caminho, fiz o cartao de socia e devorei todos os livros infantis.... Tinha um probleminha para devolve-los, passava do prazo frequentemente, pagava constantemente multa (mas isso fica por conta do neuronio defeituoso que tenho).

Enfim, sabes que temos uma diferenca de oito anos cada uma das minhas irmas, pois entao na altura, na parte da tarde eu ficava tomando conta da Michelle que (nao me lembro quantos anos ela tinha) mas ela ja falava (aquela lingua dos bebes) e ja andava. Lembrei entao que tinha que entregar um livro e que era o ultimo dia do prazo ("- poxa", pensei, "-eu tenho que ir de qualquer maneira, o papai vai me matar se eu pedir mais dinheiro para pagar a multa da biblioteca"), e estava em cima da hora da biblioteca fechar (ou seja eu nao poderia levar a Michelle, pois com ela demoraria uma hora pra la chegar - passos de bebe). Pensei: -- " tenho que deixa-la sozinha ai meu Deus o que faco? Mas tenho que pensar depressa"..... Pensei na coisa que poderia deixa-la distraida o tempo mais longo possivel, sem chorar, mas o que? Lembrei do gravador da Janete (aquela coisa proibida, que nem eu nem a Michelle podiamos tocar). Assim que peguei no gravador a Michelle comecou logo a rir, entao eu falei: -" Fica aqui um instantinho a brincar com o gravador da Janete que eu ja volto". Sai. Corri. Voei. Nunca corri tanto na minha vida....

Quando voltei a Michelle ainda estava a "conversar" com o gravador. Suspirei de alivio....ate ver em cima da cama, onde eu a deixei, um papel de Melhoral Infantil vazio. A Michelle tinha comido dois compridos desses. -"Caramba, to ferrada...." A partir dai, hoje, pra ser sincera nao me lembro se contei pra minha mae, e o que aconteceu depois.A unica coisa que tenho a certeza e que a Michelle ficou bem (ainda bem que foi so Melhoral Infantil), de resto nao lembro sei se apanhei ou fiquei de castigo. Mas hoje, quando me lembro desse episodio ( e nunca me esqueco), agradeco a Deus e ao nosso Anjo da Guarda (meu e dela). Ja pensou, deixar uma crianca sozinha? Bem, eu nao me lembro do fim, mas o cagaco foi tanto, que nunca mais deixei a Michelle sozinha depois disso e levava-a para
qualquer lado que fosse....

Enfim, coisas de livros.....


Um beijo grande,

Jandira"

sexta-feira, 9 de julho de 2010

COMO TUDO COMEÇOU E COMO TUDO CONTINUA ...

Cada desenho traz uma estória. Eu amo escrever, mas quando eu termino um desenho, parece que eu escreví páginas e páginas. Ao longo do tempo, eu revisitei temas clássicos da cultura afrocarioca, e gosto de brincar de compará-los.
Quando eu comecei a desenhar, eu só queria passar o tempo e registrar algum episódio, através de um desenho, que mais tarde só eu saberia decifrar.
Hoje, meu filho já entra na mesma sintonia e além de decifrar meus códigos, escreve suas próprias crônicas, ou seja, faz sua versão do
que ele capta de meus desenhos e coloca sua assinatura.
Também tenho desenhos meramente ilustrativos das
crônicas de ''A ROUPA DAS RUAS'', e outros que geraram crônicas. Mais recentemente eu desenhei algumas cantigas de Orixás compostas por Mãe Chica e traduzí para o desenho as explicações que ela nos deu sobre cada entidade
do panteão africano.
Fiz também um desenho para acompanhar um samba composto por Dom Kelé nos anos 50.
Por hora eu trago para vocês ícones jurássicos repaginados.
Bom Fim de Semana!