sexta-feira, 18 de novembro de 2011

DIA DA CONSCIENCIA NEGRA!

Quem me conhece faz tempo, também conhece essa estória. E na Semana de Zumbi, ela serve de reflexão. Eu morava no Humaitá, e estava voltando para casa de 438 - Barão de Drummond/Leblon. Eu havia comprado alguns pares de sapato numa liquidação no Centro. Embarquei no onibus, na Praça XV, e quando entrei, ví que todo bancotraseiro estava ocupado por rapazes negros. Eu pensei cá com meus sapatos: -''sei não, essa negrada toda no último banco deve está olhando quem entra pra depois assaltar!'' Na mesma hora me penitenciei por aquele pensamento preconceituoso. Afinal, eles poderiam ser meus irmãos, meus namorados, meus amigos.....Só porque estavam de bermuda, num dia de semana, no horário em que a maioria está trabalhando..........eles podiam ser guardas noturnos, enfermeiros......mas não custava eu guardar meu relógio, meu anel de prata com ouro, meu dinheiro no sapato.......não custava eu ficar olhando o movimento negro pelo retrovisor. Conforme os outros passageiros iam embarcando, a postura era a mesma, davam uma respirada, quando viam o grupo, passavam na roleta e ficavam de olho no espelho. Quando alcançamos o Hotel Novo Mundo, eu respirei aliviada, porque minha experiência dizia, que se ninguém se apresentava como assaltante até ali, o resto da viagem era tranquila. Mas assim que chegamos no outro ponto, os ''meus irmãos de cor'' já haviam iniciado o assalto, que na verdade era direcionado a um cidadão só.Mas quando eu escutei que era assalto , que ví que o onibus estava parado, e com a porta da frente aberta, eu lancei mão das minhas sacolas e rumei para a porta. Sentí um mão me segurar, e uma voz falar carinhosamente no meu ouvido:-''não precisa saltar não, nós já estamos saindo''. E saíram sem incomodar mais ninguém. Eu, que caí de volta no banco, depois de tanta deferência, agora me penitenciava por não ter acreditado no meu faro. Ontem, entrei no mercadinho lá da esquina de casa, no Sapezal e depois de colocar os suquinhos do meu filhinho no balcão, esperei um sujeito, que vocês estão vendo no desenho fazer a compra dele, para eu pagar os suquinhos. O cara era pra lá de caidinho, e tinha as pernas inchadas de tanto alcool, embora fosse magrinho. Não pensei que ele fosse meu irmão, ou meu namorado desta vez, mas a imagem dele era de dar dó! Ele pediu várias marcas de cigarro e trazia uma nota de dois reais entre os dedos, como os trocadores antigos faziam. Depois de muita escolha ele optou por um tipo X de cigarro e o comerciante, disse a ele que aquele cigarro era dois reais e sessenta centavos. Ele então colocou a mão sobre o balcão..... parou........olhou para Seu Antonio e disse: -''..o sinhô não vaime levar a mal, mas.....'' , e colocou um pé para atrás...... Eu pensei que ele ia surgiu com alguma arma e dizer que ia levaro cigarro e mais alguma coisa de graça. Nada disso! Ele colocou a mão para se apoiar no balcão e o pé atrás do outro, para descalçar um tenis ! Aí, ele olhou pra mim, meio constragido e eu ví que no lugar do salto do calçado, ele camuflava as moedas dele. Ele me disse: -''moeda é fácil de perder, e dinheiro não dá pra dar mole não''. Eu balbuciei um: ''- é...''. Ele então pegou uma moeda de cinquenta centavos e outra de dez centavos de chulé e entregou para Seu Antonio, que teve que aceitar. Depois que ele saiu , perguntei ao comerciante lusodescendente se ele conhecia o gajo, e ele disse que ele era carroceiro e que pelo aspecto, talvez ele até dormisse com aquele tenis calçado. As vésperas do Dia da Consciência Negra , a gente ainda tem muito tópico pra debater com nossas próprias consciências.

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